CRÔNICA DE UM DISCURSO AMOROSO
Por: Zinah Alexandrino
Meu cavaleiro virtual andante, semeador de paixões nas calmarias
das noites. Encontraste-me com o coração apaziguado e ensinaste-me a ser
mistério e revelação. Deixaste-me contigo, em contínua comunhão, para, em
seguida, evadir-te sem nenhuma explicação. Fiquei descomposta e preterida.
Acaso, estás a desbravar outras estrelas, à procura de outros idílios,
na sofreguidão de tuas conquistas, espargindo galanteios e seduções para
compores o teu harém em palácios de marfim, em outras constelações?
Preferes agora as novidades a mim? O que foi feito daquele homem sedento
de amor, que me queria sem fronteiras, sem barreiras e sem empecilhos pelos
caminhos? Em tuas andanças, terás sido apanhado por outra, em teu fadado
destino de caçador andarilho? E me deixaste a esvaecer queixumes, tecendo a
tessitura de tuas palavras em forma de promessas, ruminando o néctar de tua
indiferença, no deserto dos meus dias, sem saberes que tomaste conta, por
inteiro, do meu vulnerável coração?
Em tudo, ao meu redor, eu vejo teus vestígios... Tua imagem não
se esgota em minhas retinas, e estás completamente imbuído nos extremos
dos meus pensamentos, embora esse teu silêncio dilacere as minhas horas.
Obstino-me em te amar sem estares por mim enamorado.
Meu vendedor de ilusões! Comprei-te no escuro de minha paixão e te
dei os sentimentos mais puros que há em mim... E tu, meu estranho amor,
em troca, amas a dor que dói em mim, a ausência de ti que vive em mim.
Contudo, te quero uno, coalescente! Meu coração já tomou o lugar da minha
razão. É, agora, um contrarritmo descompassado só fica repetindo, em eterna
ladainha: “Amo-te! Amo-te! Vem sintonizar-me em teu coração, meu amor sem
fim!”