terça-feira, 2 de novembro de 2010

CRÔNICA DE UM DISCURSO AMOROSO


CRÔNICA DE UM DISCURSO AMOROSO

Por: Zinah Alexandrino

Meu cavaleiro virtual andante, semeador de paixões nas calmarias

das noites. Encontraste-me com o coração apaziguado e ensinaste-me a ser

mistério e revelação. Deixaste-me contigo, em contínua comunhão, para, em

seguida, evadir-te sem nenhuma explicação. Fiquei descomposta e preterida.

Acaso, estás a desbravar outras estrelas, à procura de outros idílios,

na sofreguidão de tuas conquistas, espargindo galanteios e seduções para

compores o teu harém em palácios de marfim, em outras constelações?

Preferes agora as novidades a mim? O que foi feito daquele homem sedento

de amor, que me queria sem fronteiras, sem barreiras e sem empecilhos pelos

caminhos? Em tuas andanças, terás sido apanhado por outra, em teu fadado

destino de caçador andarilho? E me deixaste a esvaecer queixumes, tecendo a

tessitura de tuas palavras em forma de promessas, ruminando o néctar de tua

indiferença, no deserto dos meus dias, sem saberes que tomaste conta, por

inteiro, do meu vulnerável coração?

Em tudo, ao meu redor, eu vejo teus vestígios... Tua imagem não

se esgota em minhas retinas, e estás completamente imbuído nos extremos

dos meus pensamentos, embora esse teu silêncio dilacere as minhas horas.

Obstino-me em te amar sem estares por mim enamorado.

Meu vendedor de ilusões! Comprei-te no escuro de minha paixão e te

dei os sentimentos mais puros que há em mim... E tu, meu estranho amor,

em troca, amas a dor que dói em mim, a ausência de ti que vive em mim.

Contudo, te quero uno, coalescente! Meu coração já tomou o lugar da minha

razão. É, agora, um contrarritmo descompassado só fica repetindo, em eterna

ladainha: “Amo-te! Amo-te! Vem sintonizar-me em teu coração, meu amor sem

fim!”

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