terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Zinah: Na verticalidade e na horizontalidade
As sutilezas do amor que transcende todo o entendimento, e horizontais do amor de superfície dão-nos a prova de que não existe o poema de verdade, mas a verdade do poema; o amor que transcende a particularidade sensível à universalidade da essência transfere a subjetividade para o Reino de Deus. Assim, as primeiras páginas de Sutilezas dão-nos essa verticalidade do conhecimento pela dialética ascendente, valorizando a altura da idéia, da essência e do modelo, e é com essa sabedoria ocidental (platônica), que Zinah Alexandrino inicia o seu modo poemático. Alô Senhor é uma poema de verdade, vertical, contém o mesmo pedido e o mesmo escopo encontrados na espiritualidade de Murilo Mendes e Jorge de Lima. “Sabes quem está falando? / É tua filha, a menor entre todas. /Senhor, eu liguei para Te contar/ Como estou me sentindo aqui...” A poetisa do amor que transcende todo o entendimento para se conhecer a si mesma _pensa logo existe_ é a mesma que pensa onde não é, portanto não é onde não pensa. “Fascinadamente fascinada/ Pela face do teu fascínio/ Fascinei-me finitamente pela/ Expressão do teu rosto. / O fato é que fiquei infinitamente/ Feito boba a fitar-te/ Fisicamente não eras nenhum Hércules. / Fortuitamente reparei no teu físico. / Faltava um pouco de massa forte/ Que compõe o formato de um homem. / Mesmo assim havia formosura/ Nas formas frígidas do teu porte, / E, quase fraquejando, / Me recompus do frenesi.” Tanto os cogitos cartesiano e freudiano dessa que é “ uma alma doce e refinada” brotam em terra bárbara; o conhecimento e o acontecimento, o joio e o trigo, o poema de verdade e a verdade do poema são extremos entre o Amor que transcende todo o entendimento (cogito de Descartes, penso, logo sou), e o amor-fascinação (cogito de Freud, penso onde não sou, portanto não sou onde não me penso); tanto o palco do mundo e do delírio estão montados em terra bárbara, o inóspito chão da poesia, essa filha natural, prevaricadora, inimiga da razão e dos “ bons costumes”, e que clivou a subjetividade, revelou a face oculta do Eu do estranhamento, porque pensa o que não é e nunca é o que pensa. “ Mirei-me no Espelho,/ Queria pintar-me./ Guardar para a posteridade,/Todos os meus traços./ E vi-me tão indefinível!/ Seria eu mesma, / Aquele reflexo triste?/ Foi então que eu vi... / “Captei minh’alma.” A poesia é filha natural desse conflito entre a verticalidade (razão), e a horizontalidade (desejo); a poesia não é a busca da emoção, mas a fuga da emoção, da verdade do desejo que não pode ser dita no plano da consciência. Da representação para o simbólico, a realização da razão e do desejo; a não-correspondência entre o Ser e o Pensamento em seus laivos de rebeldia assinalam a horizontalidade do acontecimento, rompendo com a natureza para constituir a verdade do poema, impregnado de furor, loucura e desrazão. A poesia não é outra coisa senão a loucura num de seus modos de aparição.

Por, Helder Alexandre Ferreira,
Fortaleza,23 de outubro de 2006

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