SUTILEZAS POÉTICAS
domingo, 1 de março de 2009
sábado, 28 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
MENINA DOS OLHOS
Teus olhos relumbram
Quando me olham.
Com a calma que espero
São lumes no meu caminho
Estes olhos que venero.
Meus olhos te suplicam
Que me fitem somente.
Acariciem-me devagar e docemente
Com teu manto transparente.
Os nossos olhos se encandeiam
Em olhares refulgentes.
Como cisnes que vagueiam
Num ritmo fremente.
Teus olhos têm menina
Que dança, que traquina
Cada vez que me olham
Eu quero esta menina
Para a menina dos meus olhos.
Teus olhos relumbram
Quando me olham.
Com a calma que espero
São lumes no meu caminho
Estes olhos que venero.
Meus olhos te suplicam
Que me fitem somente.
Acariciem-me devagar e docemente
Com teu manto transparente.
Os nossos olhos se encandeiam
Em olhares refulgentes.
Como cisnes que vagueiam
Num ritmo fremente.
Teus olhos têm menina
Que dança, que traquina
Cada vez que me olham
Eu quero esta menina
Para a menina dos meus olhos.
Efígie
Meu pai disse adeus...
Livrou-se do cansaço dos anos
E da sua consciência abstrata.
Semeou o bem, não plantou desenganos.
Mas sua imagem ficou:
Na memória da estante da sala,
Onde está seu tesouro:
Os livros que tanto citou;
Hoje seu maior legado,
Que uma traça banqueteou.
Ficou na memória da quina da mesa,
Na cadeira do canto da varanda,
Nos retos caminhos que trilhou
E nas horas da minha saudade.
Meu pai disse adeus...
E eu, aceno chorando.
Zinah Alexandrino,in Sutilezas,2006
Meu pai disse adeus...
Livrou-se do cansaço dos anos
E da sua consciência abstrata.
Semeou o bem, não plantou desenganos.
Mas sua imagem ficou:
Na memória da estante da sala,
Onde está seu tesouro:
Os livros que tanto citou;
Hoje seu maior legado,
Que uma traça banqueteou.
Ficou na memória da quina da mesa,
Na cadeira do canto da varanda,
Nos retos caminhos que trilhou
E nas horas da minha saudade.
Meu pai disse adeus...
E eu, aceno chorando.
Zinah Alexandrino,in Sutilezas,2006
TRIBAL
Nesta luta moral
Com linguagem cifrada
Defendo meu pão salutar
Não deixo que me tirem
O lugar que galguei
Nas muralhas do tempo
Para do mal me livrar.
Quando fugi do meu ócio
Nas minhas andanças de nômade
Garimpei entre os cascalhos do mundo
As raízes do bem imutável
Caminho agora ao encontro
Dos filhos de Israel
Cansei-me das confusões de Babel.
Aportarei no último milênio
Em uma das doze portas das tribos
Descerei com a Santa Cidade
Cantando o Hino da vitória
Comerei do fruto da árvore da vida
Dormirei no repouso do mestre
E habitarei eternamente nos céus.
Nesta luta moral
Com linguagem cifrada
Defendo meu pão salutar
Não deixo que me tirem
O lugar que galguei
Nas muralhas do tempo
Para do mal me livrar.
Quando fugi do meu ócio
Nas minhas andanças de nômade
Garimpei entre os cascalhos do mundo
As raízes do bem imutável
Caminho agora ao encontro
Dos filhos de Israel
Cansei-me das confusões de Babel.
Aportarei no último milênio
Em uma das doze portas das tribos
Descerei com a Santa Cidade
Cantando o Hino da vitória
Comerei do fruto da árvore da vida
Dormirei no repouso do mestre
E habitarei eternamente nos céus.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
APRESENTAÇÃO DO LIVRO SUTILEZAS,POEMAS DE ZINAH ALEXANDRINO
Por,Arleni Portelada
Sabem aquela mulher que mirava-se no espelho?
Ela queria guardar para a posteridade todos os seus traços.
Queria ser o sol, a lua, a bruma, as flores, a música e nem desconfiava se seria louca ou sábia.
Ela é fascinada pela face do fascínio: escreve só o que lhe dita o coração, o que lhe vem da alma. É capaz de largar tudo, deixar a porta aberta e o impossível acontecer, para viver uma paixão.
Considera-se um vulcão adormecido, um personagem de tragédia que desce as profundezas, submerge e não se importa.
À noite, vagueia pelos mundos da Via Láctea, encontra-se com Órion, aprisiona o fujão Arcturo, ou simplesmente deita e rola; sofre e chora pelos famintos do Zaire,e do Brasil.
Sente falta dos Bonifácios, dos Tiradentes, dos Carlos Prestes, do canto libertador de Castro Alves.
Em fins de março se o sol castiga com o estigma da seca, pede a Deus que mande chuva, daquelas que escorrem pela borda do chapéu e enchem os açudes.
Pede ao Pai ao fim da tempestade de seus dias e caprichosa confessa: meu intelecto cansou.
Cheia de sutilezas e mistérios, ensaia caras e bocas em frente dos espelhos, se encharca de perfume e faz de conta que é um sapato.
Feliz da vida vai pisando por aí na calada da noite, cantando soluções, curando saudades.
Sabem, aquela mulher de quem estamos falando? Ela está aqui. Viajou nas horas e viveu a emoção de cada segundo que antecedeu a esse encontro.
Aquela mulher, vestindo negro na platéia, é ela.
Cuidem bem dela, porque ela é poeta!
Senhoras e senhores, boa noite!
Sejam bem-vindos a esta noite de sutilezas poéticas.
Por,Arleni Portelada
Sabem aquela mulher que mirava-se no espelho?
Ela queria guardar para a posteridade todos os seus traços.
Queria ser o sol, a lua, a bruma, as flores, a música e nem desconfiava se seria louca ou sábia.
Ela é fascinada pela face do fascínio: escreve só o que lhe dita o coração, o que lhe vem da alma. É capaz de largar tudo, deixar a porta aberta e o impossível acontecer, para viver uma paixão.
Considera-se um vulcão adormecido, um personagem de tragédia que desce as profundezas, submerge e não se importa.
À noite, vagueia pelos mundos da Via Láctea, encontra-se com Órion, aprisiona o fujão Arcturo, ou simplesmente deita e rola; sofre e chora pelos famintos do Zaire,e do Brasil.
Sente falta dos Bonifácios, dos Tiradentes, dos Carlos Prestes, do canto libertador de Castro Alves.
Em fins de março se o sol castiga com o estigma da seca, pede a Deus que mande chuva, daquelas que escorrem pela borda do chapéu e enchem os açudes.
Pede ao Pai ao fim da tempestade de seus dias e caprichosa confessa: meu intelecto cansou.
Cheia de sutilezas e mistérios, ensaia caras e bocas em frente dos espelhos, se encharca de perfume e faz de conta que é um sapato.
Feliz da vida vai pisando por aí na calada da noite, cantando soluções, curando saudades.
Sabem, aquela mulher de quem estamos falando? Ela está aqui. Viajou nas horas e viveu a emoção de cada segundo que antecedeu a esse encontro.
Aquela mulher, vestindo negro na platéia, é ela.
Cuidem bem dela, porque ela é poeta!
Senhoras e senhores, boa noite!
Sejam bem-vindos a esta noite de sutilezas poéticas.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
APRECIAÇÃO DE ALGUNS TEXTOS DO POETA AUGUSTO TAVARES
Augusto desnuda seus pensamentos para o mundo da poesia. É mais um poeta que surge sangrando o verbo, libertando-se das amarras do convencionalismo. Com linguagem simples ele converte em verso o sumo das palavras em subjetividades suas experiências, seus desejos, seu afã, como uma válvula de escape e bota para fora todas as suas emoções de forma inovadora.
Usa dessa liberdade que só ao poeta é permitido nestes versos de “A poesia me salva”: Só a poesia me salva dos constrangimentos das conversas truncadas / Das pessoas que falam tanto dizem – nada. Com autonomia ele foge às leis do parnaso “da ordem natural” que rege frases e versos.
Por isso, não se preocupa com ritmo, métricas, sonoridades etc. Essa liberdade ele denota fugindo dos discursos convencionais pragmáticos ou teóricos dos textos poéticos.
Intitula-se amador na prática de versejar, mesmo assim ele ama o fazer poético e ama a dor de amar como comprova os versos de “Poeta amador”: Se a dor que insiste em doer / É dor de amor / O poeta ama-dor sobrevive/ Por de amor, poder morrer. Mas não morre aí sua dor, porque há muito ainda para o poeta decifrar sobre o amor em sua poética.
Num lirismo confessional ele reinventa o amor em “Dialética do amor”: Hoje não quero / Nada de perfeição nem harmonia / Quero a paixão / Da tempestade, do furacão / Do céu multicolor em fúria.
É dessa simplicidade que se revestem todos os poemas de Augusto e fazem da sua sintaxe literária uma semântica pessoal e particular. Isso só vem confirmar o que nos diz o nosso grande poeta Francisco Carvalho, a citar: “O bom poema não deve ser confundido com uma orgia de palavras eruditas. A poesia pode resultar de palavras banais, dessas coisas que estão à flor da pele do cotidiano. O poema não precisa ficar o tempo todo bolinando a metafísica” Baseado nesta assertiva, está pronto o nosso poeta estreante em nos ofertar a sua arte em poesia.
Por Zinah Alexandrino
Augusto desnuda seus pensamentos para o mundo da poesia. É mais um poeta que surge sangrando o verbo, libertando-se das amarras do convencionalismo. Com linguagem simples ele converte em verso o sumo das palavras em subjetividades suas experiências, seus desejos, seu afã, como uma válvula de escape e bota para fora todas as suas emoções de forma inovadora.
Usa dessa liberdade que só ao poeta é permitido nestes versos de “A poesia me salva”: Só a poesia me salva dos constrangimentos das conversas truncadas / Das pessoas que falam tanto dizem – nada. Com autonomia ele foge às leis do parnaso “da ordem natural” que rege frases e versos.
Por isso, não se preocupa com ritmo, métricas, sonoridades etc. Essa liberdade ele denota fugindo dos discursos convencionais pragmáticos ou teóricos dos textos poéticos.
Intitula-se amador na prática de versejar, mesmo assim ele ama o fazer poético e ama a dor de amar como comprova os versos de “Poeta amador”: Se a dor que insiste em doer / É dor de amor / O poeta ama-dor sobrevive/ Por de amor, poder morrer. Mas não morre aí sua dor, porque há muito ainda para o poeta decifrar sobre o amor em sua poética.
Num lirismo confessional ele reinventa o amor em “Dialética do amor”: Hoje não quero / Nada de perfeição nem harmonia / Quero a paixão / Da tempestade, do furacão / Do céu multicolor em fúria.
É dessa simplicidade que se revestem todos os poemas de Augusto e fazem da sua sintaxe literária uma semântica pessoal e particular. Isso só vem confirmar o que nos diz o nosso grande poeta Francisco Carvalho, a citar: “O bom poema não deve ser confundido com uma orgia de palavras eruditas. A poesia pode resultar de palavras banais, dessas coisas que estão à flor da pele do cotidiano. O poema não precisa ficar o tempo todo bolinando a metafísica” Baseado nesta assertiva, está pronto o nosso poeta estreante em nos ofertar a sua arte em poesia.
Por Zinah Alexandrino
Bicho Homem
(o maior predador)
Um dia desses por volta das dez da noite, estava em meu quarto no meu velho ritual para um descanso de mais um dia (mais ou menos) de minha vida mais ou menos boa, quando de repente ouvi um baque surdo vindo lá de fora. Saí apressada para ver o sucedido e deparei-me com um galho caído da velha e frondosa Oliveira (árvore que dá nome aos meus ancestrais), que agonizava meio capenga próximo a janela do meu quarto.
Voltei triste com o acontecido em solidariedade a árvore e então dei continuidade ao meu costumeiro ritual.
Dois dias após o sucedido vinha eu chegando em casa e fui surpreendida por dois homens amarrados pela cintura e presos a árvore, cortando o velho e saudoso galho que não resistira às forças da natureza.
Pensei que os homens iriam parar por aí, mas tal foi minha surpresa...no dia seguinte ao tirar o carro da garagem, lá estavam os homens novamente pendurados, desta feita, decididos em devastar definitivamente a pobre árvore. Fiquei indignada, pensei logo nos meus amigos Soinhos, os hóspedes nativos da Oliveira que todas as manhãs e as tardes me chamavam com assobios e beijinhos sempre que eu abria as janelas.
Então lembrei que há dias não os via por ali e pensei: O que não faz a mão devastadora do homem contra a natureza! Quantos anos aqueles bichinhos não fizeram daquela Oliveira o seu porto seguro contra seus predadores naturais de todas as suas vidas? E, agora perambulam, ora por cima do meu telhado, ora em algumas árvores não frutíferas de pequeno porte, sem saber a explicação do que fora feito da Oliveira, vitimada pela mão do maior predador da natureza: O Bicho Homem...
Zinah Alexandrino
(o maior predador)
Um dia desses por volta das dez da noite, estava em meu quarto no meu velho ritual para um descanso de mais um dia (mais ou menos) de minha vida mais ou menos boa, quando de repente ouvi um baque surdo vindo lá de fora. Saí apressada para ver o sucedido e deparei-me com um galho caído da velha e frondosa Oliveira (árvore que dá nome aos meus ancestrais), que agonizava meio capenga próximo a janela do meu quarto.
Voltei triste com o acontecido em solidariedade a árvore e então dei continuidade ao meu costumeiro ritual.
Dois dias após o sucedido vinha eu chegando em casa e fui surpreendida por dois homens amarrados pela cintura e presos a árvore, cortando o velho e saudoso galho que não resistira às forças da natureza.
Pensei que os homens iriam parar por aí, mas tal foi minha surpresa...no dia seguinte ao tirar o carro da garagem, lá estavam os homens novamente pendurados, desta feita, decididos em devastar definitivamente a pobre árvore. Fiquei indignada, pensei logo nos meus amigos Soinhos, os hóspedes nativos da Oliveira que todas as manhãs e as tardes me chamavam com assobios e beijinhos sempre que eu abria as janelas.
Então lembrei que há dias não os via por ali e pensei: O que não faz a mão devastadora do homem contra a natureza! Quantos anos aqueles bichinhos não fizeram daquela Oliveira o seu porto seguro contra seus predadores naturais de todas as suas vidas? E, agora perambulam, ora por cima do meu telhado, ora em algumas árvores não frutíferas de pequeno porte, sem saber a explicação do que fora feito da Oliveira, vitimada pela mão do maior predador da natureza: O Bicho Homem...
Zinah Alexandrino
APRECIAÇÃO DO LIVRO “O ESPÍRITO DO SUCESSO” (Fortaleza: Expressão Gráfica, 2004) Romance épico baseado na vida de Alexandre, o Grande – DO ESCRITOR JOSÉ AUGUSTO BEZERRA
Por Zinah Alexandrino:
Quão bom é sabermos que num mundo caótico em que vivemos; em meio a tantas adversidades, existem os construtores do imaginário, os grandes autores. Quer sejam do passado ou dos dias atuais, com suas mentes criadoras, nos repassam através de suas obras literárias um outro mundo, o da fruição literária. De onde podemos por meio de suas páginas transportarmos para dentro da história e dar evasão aos nossos sentimentos, e nessa catarse esquecermos os horrores que nos cercam nos fazendo testemunhas do tempo e da vida que se oferece para além do período que se registra e é também o espaço para atuar o pensamento crítico.
Segundo o pensamento de Edgar Morin “Literatura é um modelo aberto ao mesmo tempo às múltiplas reflexões sobre a história do mundo, sobre as ciências naturais, sobre as ciências sociológicas, sobre a antropologia cultural, sobre os princípios éticos, sobre política, economia, ecologia....”. José Augusto nos repassa estas múltiplas reflexões que vemos desenvolvidas através do seu romance, não se delimitou apenas na história em si.
Nesta obra, o autor confirma que não é por acaso que a literatura vem sendo indicada como uma das disciplinas mais adequadas para servir de eixo, ou seja, de “tema transversal” para interligar uma das unidades de ensino nos novos parâmetros curriculares. Daí a justificativa a essa nova proposta da literatura para ser utilizada como “fio de Ariadne neste labirinto atual do ensino” como diz Nelly Novaes Coelho.
Em o Espírito do Sucesso, seu autor soube condensar com muita maestria em uma só obra: o épico, o fantástico, a poética, a retórica, fundindo o imaginário com a realidade, nos dando uma lição do verdadeiro sucesso dentro do contexto central do romance, nos revelando um conhecimento intrínseco da valorização do espírito.
Conhecer a cultura, a tradição, os costumes de povos milenares é como que abrir uma porta para estudos, considerações e conclusões às mais interessantes. Que a história mais que milenar dos povos que iniciaram a vida da humanidade nos sirva de exemplo para que saibamos sobreviver nessa nossa desmoronada civilização, partindo para uma nova, sem as tradições, os costumes eivados de erros dos nossos antepassados e as intrigas e incompreensões de nossos dias. Neste livro pequeno no tamanho, mas como Alexandre, grande no objetivo, o escritor revela um sabor que poucos têm tido a felicidade de possuir: o de aliar a História com as realidades do presente em nossas vidas.
O Espírito do Sucesso não foi escrito com o cunho técnico de um arqueólogo; nem tampouco pela pena de um profissional da História; não foi elaborado com a rebuscada argumentação de um filósofo, mas na linguagem simples de quem viajou e conhece o mundo e sua história, tirando conclusões para depois repartir com os outros as emoções das suas peregrinações no seu imaginário, oferecendo ao leitor um pouco de enlevo, convidando-os a uma análise do espírito e dos vínculos que unem o passado desses povos com o nosso presente e mostra que experiências das gerações que nos precederam, instrui-nos revelando-nos que todas as coisas deverão convergir para um ponto final na história da humanidade.
Com esta obra seu autor tem tudo para alcançar o sucesso na galeria dos grandes e notáveis escritores.
Por Zinah Alexandrino:
Quão bom é sabermos que num mundo caótico em que vivemos; em meio a tantas adversidades, existem os construtores do imaginário, os grandes autores. Quer sejam do passado ou dos dias atuais, com suas mentes criadoras, nos repassam através de suas obras literárias um outro mundo, o da fruição literária. De onde podemos por meio de suas páginas transportarmos para dentro da história e dar evasão aos nossos sentimentos, e nessa catarse esquecermos os horrores que nos cercam nos fazendo testemunhas do tempo e da vida que se oferece para além do período que se registra e é também o espaço para atuar o pensamento crítico.
Segundo o pensamento de Edgar Morin “Literatura é um modelo aberto ao mesmo tempo às múltiplas reflexões sobre a história do mundo, sobre as ciências naturais, sobre as ciências sociológicas, sobre a antropologia cultural, sobre os princípios éticos, sobre política, economia, ecologia....”. José Augusto nos repassa estas múltiplas reflexões que vemos desenvolvidas através do seu romance, não se delimitou apenas na história em si.
Nesta obra, o autor confirma que não é por acaso que a literatura vem sendo indicada como uma das disciplinas mais adequadas para servir de eixo, ou seja, de “tema transversal” para interligar uma das unidades de ensino nos novos parâmetros curriculares. Daí a justificativa a essa nova proposta da literatura para ser utilizada como “fio de Ariadne neste labirinto atual do ensino” como diz Nelly Novaes Coelho.
Em o Espírito do Sucesso, seu autor soube condensar com muita maestria em uma só obra: o épico, o fantástico, a poética, a retórica, fundindo o imaginário com a realidade, nos dando uma lição do verdadeiro sucesso dentro do contexto central do romance, nos revelando um conhecimento intrínseco da valorização do espírito.
Conhecer a cultura, a tradição, os costumes de povos milenares é como que abrir uma porta para estudos, considerações e conclusões às mais interessantes. Que a história mais que milenar dos povos que iniciaram a vida da humanidade nos sirva de exemplo para que saibamos sobreviver nessa nossa desmoronada civilização, partindo para uma nova, sem as tradições, os costumes eivados de erros dos nossos antepassados e as intrigas e incompreensões de nossos dias. Neste livro pequeno no tamanho, mas como Alexandre, grande no objetivo, o escritor revela um sabor que poucos têm tido a felicidade de possuir: o de aliar a História com as realidades do presente em nossas vidas.
O Espírito do Sucesso não foi escrito com o cunho técnico de um arqueólogo; nem tampouco pela pena de um profissional da História; não foi elaborado com a rebuscada argumentação de um filósofo, mas na linguagem simples de quem viajou e conhece o mundo e sua história, tirando conclusões para depois repartir com os outros as emoções das suas peregrinações no seu imaginário, oferecendo ao leitor um pouco de enlevo, convidando-os a uma análise do espírito e dos vínculos que unem o passado desses povos com o nosso presente e mostra que experiências das gerações que nos precederam, instrui-nos revelando-nos que todas as coisas deverão convergir para um ponto final na história da humanidade.
Com esta obra seu autor tem tudo para alcançar o sucesso na galeria dos grandes e notáveis escritores.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Zinah: Na verticalidade e na horizontalidade
As sutilezas do amor que transcende todo o entendimento, e horizontais do amor de superfície dão-nos a prova de que não existe o poema de verdade, mas a verdade do poema; o amor que transcende a particularidade sensível à universalidade da essência transfere a subjetividade para o Reino de Deus. Assim, as primeiras páginas de Sutilezas dão-nos essa verticalidade do conhecimento pela dialética ascendente, valorizando a altura da idéia, da essência e do modelo, e é com essa sabedoria ocidental (platônica), que Zinah Alexandrino inicia o seu modo poemático. Alô Senhor é uma poema de verdade, vertical, contém o mesmo pedido e o mesmo escopo encontrados na espiritualidade de Murilo Mendes e Jorge de Lima. “Sabes quem está falando? / É tua filha, a menor entre todas. /Senhor, eu liguei para Te contar/ Como estou me sentindo aqui...” A poetisa do amor que transcende todo o entendimento para se conhecer a si mesma _pensa logo existe_ é a mesma que pensa onde não é, portanto não é onde não pensa. “Fascinadamente fascinada/ Pela face do teu fascínio/ Fascinei-me finitamente pela/ Expressão do teu rosto. / O fato é que fiquei infinitamente/ Feito boba a fitar-te/ Fisicamente não eras nenhum Hércules. / Fortuitamente reparei no teu físico. / Faltava um pouco de massa forte/ Que compõe o formato de um homem. / Mesmo assim havia formosura/ Nas formas frígidas do teu porte, / E, quase fraquejando, / Me recompus do frenesi.” Tanto os cogitos cartesiano e freudiano dessa que é “ uma alma doce e refinada” brotam em terra bárbara; o conhecimento e o acontecimento, o joio e o trigo, o poema de verdade e a verdade do poema são extremos entre o Amor que transcende todo o entendimento (cogito de Descartes, penso, logo sou), e o amor-fascinação (cogito de Freud, penso onde não sou, portanto não sou onde não me penso); tanto o palco do mundo e do delírio estão montados em terra bárbara, o inóspito chão da poesia, essa filha natural, prevaricadora, inimiga da razão e dos “ bons costumes”, e que clivou a subjetividade, revelou a face oculta do Eu do estranhamento, porque pensa o que não é e nunca é o que pensa. “ Mirei-me no Espelho,/ Queria pintar-me./ Guardar para a posteridade,/Todos os meus traços./ E vi-me tão indefinível!/ Seria eu mesma, / Aquele reflexo triste?/ Foi então que eu vi... / “Captei minh’alma.” A poesia é filha natural desse conflito entre a verticalidade (razão), e a horizontalidade (desejo); a poesia não é a busca da emoção, mas a fuga da emoção, da verdade do desejo que não pode ser dita no plano da consciência. Da representação para o simbólico, a realização da razão e do desejo; a não-correspondência entre o Ser e o Pensamento em seus laivos de rebeldia assinalam a horizontalidade do acontecimento, rompendo com a natureza para constituir a verdade do poema, impregnado de furor, loucura e desrazão. A poesia não é outra coisa senão a loucura num de seus modos de aparição.
Por, Helder Alexandre Ferreira,
Fortaleza,23 de outubro de 2006
As sutilezas do amor que transcende todo o entendimento, e horizontais do amor de superfície dão-nos a prova de que não existe o poema de verdade, mas a verdade do poema; o amor que transcende a particularidade sensível à universalidade da essência transfere a subjetividade para o Reino de Deus. Assim, as primeiras páginas de Sutilezas dão-nos essa verticalidade do conhecimento pela dialética ascendente, valorizando a altura da idéia, da essência e do modelo, e é com essa sabedoria ocidental (platônica), que Zinah Alexandrino inicia o seu modo poemático. Alô Senhor é uma poema de verdade, vertical, contém o mesmo pedido e o mesmo escopo encontrados na espiritualidade de Murilo Mendes e Jorge de Lima. “Sabes quem está falando? / É tua filha, a menor entre todas. /Senhor, eu liguei para Te contar/ Como estou me sentindo aqui...” A poetisa do amor que transcende todo o entendimento para se conhecer a si mesma _pensa logo existe_ é a mesma que pensa onde não é, portanto não é onde não pensa. “Fascinadamente fascinada/ Pela face do teu fascínio/ Fascinei-me finitamente pela/ Expressão do teu rosto. / O fato é que fiquei infinitamente/ Feito boba a fitar-te/ Fisicamente não eras nenhum Hércules. / Fortuitamente reparei no teu físico. / Faltava um pouco de massa forte/ Que compõe o formato de um homem. / Mesmo assim havia formosura/ Nas formas frígidas do teu porte, / E, quase fraquejando, / Me recompus do frenesi.” Tanto os cogitos cartesiano e freudiano dessa que é “ uma alma doce e refinada” brotam em terra bárbara; o conhecimento e o acontecimento, o joio e o trigo, o poema de verdade e a verdade do poema são extremos entre o Amor que transcende todo o entendimento (cogito de Descartes, penso, logo sou), e o amor-fascinação (cogito de Freud, penso onde não sou, portanto não sou onde não me penso); tanto o palco do mundo e do delírio estão montados em terra bárbara, o inóspito chão da poesia, essa filha natural, prevaricadora, inimiga da razão e dos “ bons costumes”, e que clivou a subjetividade, revelou a face oculta do Eu do estranhamento, porque pensa o que não é e nunca é o que pensa. “ Mirei-me no Espelho,/ Queria pintar-me./ Guardar para a posteridade,/Todos os meus traços./ E vi-me tão indefinível!/ Seria eu mesma, / Aquele reflexo triste?/ Foi então que eu vi... / “Captei minh’alma.” A poesia é filha natural desse conflito entre a verticalidade (razão), e a horizontalidade (desejo); a poesia não é a busca da emoção, mas a fuga da emoção, da verdade do desejo que não pode ser dita no plano da consciência. Da representação para o simbólico, a realização da razão e do desejo; a não-correspondência entre o Ser e o Pensamento em seus laivos de rebeldia assinalam a horizontalidade do acontecimento, rompendo com a natureza para constituir a verdade do poema, impregnado de furor, loucura e desrazão. A poesia não é outra coisa senão a loucura num de seus modos de aparição.
Por, Helder Alexandre Ferreira,
Fortaleza,23 de outubro de 2006
LOG’DOSO
Nessa pressa em que vivemos, a falta de tempo é desculpa para todos os contra-tempos. Todavia os mais espertos, sempre encontram uma maneira criativa de burlar os obstáculos.
A exemplo disso, é só nos dirigirmos aos caixas de qualquer sistema financeiro: como bancos,Chegue e Pague etc. E nos deparamos com filas quilométricas; separando as pessoas pela faixa etária, a maioria está acima dos sessenta e cinco anos, ou seja,de longevos e depois que a lei lhes garantiu a prioridade de “furarem” as filas, não se vê mais um “velhinho” desfrutando “ uma rede preguiçosa na varanda “, fazendo uma sexta ou postados à frente da televisão.Nunca se viu tantos longevos entrando e saindo das filas de pagamentos e haja reclamações daqueles que são obrigados a perderem horas à fio nas filas em detrimento, dos casos especiais, por culpa dos donos de estabelecimentos comerciais e sistemas bancários que não dispõem de caixas suficientes para atender a demanda.
Sem contar com os oportunistas de ocasião que para ganharem tempo e tirar vantagem da situação caótica, levam às filas seus pais idosos, tios, avós... ou mesmo uma empregada doméstica grávida, ou ainda em estado de lactação ou uma criança de colo. Por conta desse triste quadro, a decrepitude está sendo vista por muitos com maus olhos e sendo explorada, em vez de ser a beneficiada em reconhecimento, pelo muito que já contribuíram com o seu trabalho para o país; daí a terem o direito a um atendimento especial.
Enquanto isso, o resto da população se descabela, frente à sua impotência por não ter a quem recorrer e você fica lá, com cara de desgosto, para não falar de “babaca” a cada vez que você pensa que chegou a sua hora para ser atendido pelo caixa e surge do nada à sua frente mais um longevo. E quem já não tem pai, mãe ou tio (a) avô ou avó em idade avançada só resta agora uma alternativa: alugar um longevo é isso mesmo, e muito não me admira se já não existir algum espertalhão acariciando a idéia para tirar proveito da situação, e já não esteja constituindo uma empresa de aluguéis de idosos. Imagino até o slogan: “LOG´DOSO“ e com uma vinheta na televisão:” Se você está cansado de perder horas,nas filas para fazer seus pagamentos,não perca mais tempo! Pague todas as suas contas com tranqüilidade e sem sair de casa ! A LOG’DOSO LHE TIRA DAS FILAS !
Outro dia, fui levar minha cadelinha Kiki, ao veterinário e de volta para casa, passei em frente de uma farmácia onde há uma dessas redes “Chegue e Pague”, e resolvi estacionar para pagar minha conta de energia. Quando entrei que olhei para o único caixa já meu deu um desânimo,à minha frente já havia dezenas de longevos . Fiquei lá, esperando que chegasse a minha hora e a cada momento, que em pensamentos eu contava:- agora só falta um... ledo engano! Do nada surgia outro e mais outro e nessa cantilena as horas iam passando a fila aumentando e eu me distanciado cada vez mais de chegar na “boca do caixa”. E haja ouvir reclamações às minhas costas:- Essa fila, só anda para trás! E um senhor perguntou-me: – Faz muito tempo que a senhora está aqui? Respondi-lhe: – À minha frente já passaram mais de dez longevos; fiquei ali, ouvindo suas queixas sem me dar conta que a minha hora de (quase) ser atendida havia chegado.Sabe o que aconteceu?-Saltitando em cima do seu alvíssimo “bical”, surge uma linda longeva com cinco boletos de contas da COELCE, na mão. O caixa parecia conhecê-la bem,pela forma como a saudou:-cuidando da forma dona Judith?-É... enquanto não chega a ronda do Governo,eu dou vinte voltas no quarteirão todos os dias! Suada e animada ela conferiu cuidadosamente o troco, enquanto dava cabeçadas no ar pelo”FUNK” da pesada que saia do fone de ouvido do seu “WAKMAN”.Aqueles consumidores de energia elétrica quitaram seus débitos numa única operação rápida e eficiente comandada pela disposta Judith.Estava tudo devidamente comprovado,no bolso de seu macacão florido,capaz de competir até na corrida de São Silvestre. Quanto a mim, era o avesso da situação :minha relação com a Companhia Energética se resumia a um aviso de corte no limite das 48 horas e os meus pés pediam compressas de água morna com sal,me doía à cabeça,uma sensação de sufoco,raciocínio fraco incapaz de bolar um jeitinho “verde amarelo” para sair da fila;se paquerasse o rapaz do caixa podia parecer uma coroa assanhada;se atropelasse um velhinho,uma desalmada.Só me restou torcer,pedir a Deus que o desmaio anunciado não me levasse à lona,apesar de todos os sintomas da implacável PVC( praga da Velhice Chegando).As transições são sempre complicadas;você não é uma coisa nem outra;vive num tempo angustiante que parece eterno, a auto-estima volta e meia vai para debaixo do pé,como naqueles 45 minutos na fila de uma farmácia para quitar um único débito.Eu me sentia a personificação de uma sucata da jovem guarda naufragando num “Submarino Amarelo”. Estava ali, absorta em meus devaneios,quando uma pessoa às minhas costas, falou:- Se achegue mais perto do caixa porque já está entrando outro idoso. Se não, a senhora perderá a sua vez. E falei brincando... Se algum velhinho tomar minha frente novamente, pego a Kiki e jogo em cima dele. E não é que deu certo ! Quando o velhinho veio se aproximando eu peguei a kiki coloquei-a toda para o lado que ele vinha se postando e o velhinho recuou.
Agora fica aqui, mais uma sugestão: ALUGA-SE CÃES PARA ASSUSTAR VELHINHOS EM FILA DE BANCO!
Zinah Alexandrino-in Policromias, 4 Antologia da AJEB,2007
Nessa pressa em que vivemos, a falta de tempo é desculpa para todos os contra-tempos. Todavia os mais espertos, sempre encontram uma maneira criativa de burlar os obstáculos.
A exemplo disso, é só nos dirigirmos aos caixas de qualquer sistema financeiro: como bancos,Chegue e Pague etc. E nos deparamos com filas quilométricas; separando as pessoas pela faixa etária, a maioria está acima dos sessenta e cinco anos, ou seja,de longevos e depois que a lei lhes garantiu a prioridade de “furarem” as filas, não se vê mais um “velhinho” desfrutando “ uma rede preguiçosa na varanda “, fazendo uma sexta ou postados à frente da televisão.Nunca se viu tantos longevos entrando e saindo das filas de pagamentos e haja reclamações daqueles que são obrigados a perderem horas à fio nas filas em detrimento, dos casos especiais, por culpa dos donos de estabelecimentos comerciais e sistemas bancários que não dispõem de caixas suficientes para atender a demanda.
Sem contar com os oportunistas de ocasião que para ganharem tempo e tirar vantagem da situação caótica, levam às filas seus pais idosos, tios, avós... ou mesmo uma empregada doméstica grávida, ou ainda em estado de lactação ou uma criança de colo. Por conta desse triste quadro, a decrepitude está sendo vista por muitos com maus olhos e sendo explorada, em vez de ser a beneficiada em reconhecimento, pelo muito que já contribuíram com o seu trabalho para o país; daí a terem o direito a um atendimento especial.
Enquanto isso, o resto da população se descabela, frente à sua impotência por não ter a quem recorrer e você fica lá, com cara de desgosto, para não falar de “babaca” a cada vez que você pensa que chegou a sua hora para ser atendido pelo caixa e surge do nada à sua frente mais um longevo. E quem já não tem pai, mãe ou tio (a) avô ou avó em idade avançada só resta agora uma alternativa: alugar um longevo é isso mesmo, e muito não me admira se já não existir algum espertalhão acariciando a idéia para tirar proveito da situação, e já não esteja constituindo uma empresa de aluguéis de idosos. Imagino até o slogan: “LOG´DOSO“ e com uma vinheta na televisão:” Se você está cansado de perder horas,nas filas para fazer seus pagamentos,não perca mais tempo! Pague todas as suas contas com tranqüilidade e sem sair de casa ! A LOG’DOSO LHE TIRA DAS FILAS !
Outro dia, fui levar minha cadelinha Kiki, ao veterinário e de volta para casa, passei em frente de uma farmácia onde há uma dessas redes “Chegue e Pague”, e resolvi estacionar para pagar minha conta de energia. Quando entrei que olhei para o único caixa já meu deu um desânimo,à minha frente já havia dezenas de longevos . Fiquei lá, esperando que chegasse a minha hora e a cada momento, que em pensamentos eu contava:- agora só falta um... ledo engano! Do nada surgia outro e mais outro e nessa cantilena as horas iam passando a fila aumentando e eu me distanciado cada vez mais de chegar na “boca do caixa”. E haja ouvir reclamações às minhas costas:- Essa fila, só anda para trás! E um senhor perguntou-me: – Faz muito tempo que a senhora está aqui? Respondi-lhe: – À minha frente já passaram mais de dez longevos; fiquei ali, ouvindo suas queixas sem me dar conta que a minha hora de (quase) ser atendida havia chegado.Sabe o que aconteceu?-Saltitando em cima do seu alvíssimo “bical”, surge uma linda longeva com cinco boletos de contas da COELCE, na mão. O caixa parecia conhecê-la bem,pela forma como a saudou:-cuidando da forma dona Judith?-É... enquanto não chega a ronda do Governo,eu dou vinte voltas no quarteirão todos os dias! Suada e animada ela conferiu cuidadosamente o troco, enquanto dava cabeçadas no ar pelo”FUNK” da pesada que saia do fone de ouvido do seu “WAKMAN”.Aqueles consumidores de energia elétrica quitaram seus débitos numa única operação rápida e eficiente comandada pela disposta Judith.Estava tudo devidamente comprovado,no bolso de seu macacão florido,capaz de competir até na corrida de São Silvestre. Quanto a mim, era o avesso da situação :minha relação com a Companhia Energética se resumia a um aviso de corte no limite das 48 horas e os meus pés pediam compressas de água morna com sal,me doía à cabeça,uma sensação de sufoco,raciocínio fraco incapaz de bolar um jeitinho “verde amarelo” para sair da fila;se paquerasse o rapaz do caixa podia parecer uma coroa assanhada;se atropelasse um velhinho,uma desalmada.Só me restou torcer,pedir a Deus que o desmaio anunciado não me levasse à lona,apesar de todos os sintomas da implacável PVC( praga da Velhice Chegando).As transições são sempre complicadas;você não é uma coisa nem outra;vive num tempo angustiante que parece eterno, a auto-estima volta e meia vai para debaixo do pé,como naqueles 45 minutos na fila de uma farmácia para quitar um único débito.Eu me sentia a personificação de uma sucata da jovem guarda naufragando num “Submarino Amarelo”. Estava ali, absorta em meus devaneios,quando uma pessoa às minhas costas, falou:- Se achegue mais perto do caixa porque já está entrando outro idoso. Se não, a senhora perderá a sua vez. E falei brincando... Se algum velhinho tomar minha frente novamente, pego a Kiki e jogo em cima dele. E não é que deu certo ! Quando o velhinho veio se aproximando eu peguei a kiki coloquei-a toda para o lado que ele vinha se postando e o velhinho recuou.
Agora fica aqui, mais uma sugestão: ALUGA-SE CÃES PARA ASSUSTAR VELHINHOS EM FILA DE BANCO!
Zinah Alexandrino-in Policromias, 4 Antologia da AJEB,2007
ZINAH ALEXANDRINO
PVC
Ninguém escapa desse inimigo antagônico do ciclo da vida que permeia nossas horas (o tempo).
Mal você acaba de nascer, começa a envelhecer. Não estaciona, a não ser com a morte e quando se morre jovem, o que não é vantagem para ninguém; nem para os que se vão e nem para os que ficam.
Crescei e multiplicai-vos! Essa foi a ordem que nos foi passada pelo Doador de nossas vidas. Mas o homem, esse curioso nato, não se deu por satisfeito, teve que vasculhar os registros do céu para ver se havia mais alguma coisa para herdar e mal sabia ele que à sua sombra rondava um inimigo voraz querendo apoderar-se da sua imortalidade (sua maior herança).
Como aconteceu isso? Todo mundo sabe: Lúcifer, o anjo caído personificou-se em serpente e ofereceu o fruto do conhecimento do bem e do mal para Eva que, por sua vez, ofereceu–o a Adão. Eles comeram, descobriram que estavam nus e foram expulsos do paraíso.
A partir daí, o homem começou a ficar escravo do tempo, perdeu sua imortalidade e partiu para a incessante busca pelo elixir da fonte da juventude. A medicina e a cosmética caminham de mãos dadas nessa busca. A cada dia inventam um novo paliativo: é o Botox, o Metacril, o DEMAE etc. É uma corrida maluca contra o tempo, a começar pelas academias de ginásticas. O homem tenta de tudo que há ao seu alcance para driblar seu maior inimigo, sem contar com uma gama de vitaminas que a indústria farmacêutica despeja no mercado.
A disputa pelo novo é a grande coqueluche, e a maior preocupação do gênero masculino é com o desempenho sexual. E haja Viagra, Cialis, Livitra e suas conseqüências, mas eles não se preocupam com efeitos colaterais porque a grande tônica é retardar a velhice em todas as suas formas. Começa pelo guarda-roupa. Há pessoas inconformadas que vivem “em busca do tempo perdido”, e chegam a se expor ao cúmulo do ridículo. Vemos senhores que se vestem a maneira de um garoto de dezoito anos e mulheres sessentonas que apelam mais ainda, expondo a barriga à moda das adolescentes.
Parecer velho, somente em fila de banco, e muitos para não chamarem a atenção para sua verdadeira idade dispensam essa prerrogativa se postando na fila comum a todos. Sabemos de pessoas idosas que têm vergonha de dizer que têm calos, azia e dores na coluna. Tudo isso porque se prega por aí que esses sintomas são queixas de velhos. Outros não querem admitir que estão cansados quando lhes oferecem uma cadeira ou ajuda para subirem a um degrau qualquer. Dispensam dando uma de forte.
Parafraseando o apóstolo Paulo, em um verso de uma de suas epístolas, quando se referiu às tentações da carne: “O espírito está pronto, mas a carne é fraca...”. Para aqueles que não querem assumir suas limitações; porém, eu digo: o espírito está pronto mas o corpo é que não resiste.
Um dia desses, me queixava para um sobrinho do preço de um remédio que o médico me receitara para as dores lombares, ele o segurou e perguntou: ---- isto é PVC? Surpresa, com a estranha pergunta, imaginei: PVC é uma marca de cano! Não cabia ao assunto que falávamos. Ele rindo ironicamente respondeu-me: --- é a Praga da Velhice Chegando, tia!!!
PVC
Ninguém escapa desse inimigo antagônico do ciclo da vida que permeia nossas horas (o tempo).
Mal você acaba de nascer, começa a envelhecer. Não estaciona, a não ser com a morte e quando se morre jovem, o que não é vantagem para ninguém; nem para os que se vão e nem para os que ficam.
Crescei e multiplicai-vos! Essa foi a ordem que nos foi passada pelo Doador de nossas vidas. Mas o homem, esse curioso nato, não se deu por satisfeito, teve que vasculhar os registros do céu para ver se havia mais alguma coisa para herdar e mal sabia ele que à sua sombra rondava um inimigo voraz querendo apoderar-se da sua imortalidade (sua maior herança).
Como aconteceu isso? Todo mundo sabe: Lúcifer, o anjo caído personificou-se em serpente e ofereceu o fruto do conhecimento do bem e do mal para Eva que, por sua vez, ofereceu–o a Adão. Eles comeram, descobriram que estavam nus e foram expulsos do paraíso.
A partir daí, o homem começou a ficar escravo do tempo, perdeu sua imortalidade e partiu para a incessante busca pelo elixir da fonte da juventude. A medicina e a cosmética caminham de mãos dadas nessa busca. A cada dia inventam um novo paliativo: é o Botox, o Metacril, o DEMAE etc. É uma corrida maluca contra o tempo, a começar pelas academias de ginásticas. O homem tenta de tudo que há ao seu alcance para driblar seu maior inimigo, sem contar com uma gama de vitaminas que a indústria farmacêutica despeja no mercado.
A disputa pelo novo é a grande coqueluche, e a maior preocupação do gênero masculino é com o desempenho sexual. E haja Viagra, Cialis, Livitra e suas conseqüências, mas eles não se preocupam com efeitos colaterais porque a grande tônica é retardar a velhice em todas as suas formas. Começa pelo guarda-roupa. Há pessoas inconformadas que vivem “em busca do tempo perdido”, e chegam a se expor ao cúmulo do ridículo. Vemos senhores que se vestem a maneira de um garoto de dezoito anos e mulheres sessentonas que apelam mais ainda, expondo a barriga à moda das adolescentes.
Parecer velho, somente em fila de banco, e muitos para não chamarem a atenção para sua verdadeira idade dispensam essa prerrogativa se postando na fila comum a todos. Sabemos de pessoas idosas que têm vergonha de dizer que têm calos, azia e dores na coluna. Tudo isso porque se prega por aí que esses sintomas são queixas de velhos. Outros não querem admitir que estão cansados quando lhes oferecem uma cadeira ou ajuda para subirem a um degrau qualquer. Dispensam dando uma de forte.
Parafraseando o apóstolo Paulo, em um verso de uma de suas epístolas, quando se referiu às tentações da carne: “O espírito está pronto, mas a carne é fraca...”. Para aqueles que não querem assumir suas limitações; porém, eu digo: o espírito está pronto mas o corpo é que não resiste.
Um dia desses, me queixava para um sobrinho do preço de um remédio que o médico me receitara para as dores lombares, ele o segurou e perguntou: ---- isto é PVC? Surpresa, com a estranha pergunta, imaginei: PVC é uma marca de cano! Não cabia ao assunto que falávamos. Ele rindo ironicamente respondeu-me: --- é a Praga da Velhice Chegando, tia!!!
APRESENTAÇÃO DO LIVRO SUTILEZAS
POR ZINAH ALEXANDRINO
“Numa dimensão transversal, os grandes autores de todos os tempos, nos permitem lê-los com os olhos de hoje e permitirá que outros os leiam com os olhos de amanhã”.
Seria ambicioso demais de minha parte, uma mera iniciante na arte de poetar, comparar-me aos grandes escritores de todos os tempos. “Mas a poesia pertence à História Geral, segundo Bosi, mas é preciso conhecer qual é a história peculiar imanente e operante em cada poema. Que experiência calada no sujeito terá suscitado esta e não aquela mensagem metafórica?”
Foi vivendo, sentindo, sofrendo, amando, fazendo uma leitura isotópica de todas as cousas, que encontrei a melhor forma de converter em palavras o sumo de minhas experiências, sem ter nunca a pretensão de comparar-me a um gênio, muito embora, segundo o nosso grande romancista da atualidade, Ruy Câmara (Prêmio Jabuti de Literatura, categoria romance 2004), “Não é preciso ser gênio para ser-se poeta, mas ninguém é poeta sem um rasgo de gênio”. Partindo dessa assertiva, que faz epígrafe geral da abertura do livro, é que lhes apresento o meu primeiro livro de Poemas, um traçado das Sutilezas da poesia, onde discorro sobre o amor em suas diversas faces, a iniciar-se pelo grande amor, este que transcende todo o nosso entendimento: O AMOR DE DEUS , o qual não poderia omiti-lo, e de ressaltar a mensagem de amor e vida (para o homem). E esse amor, de um homem por uma mulher, e vice-versa. Os dois vêm epigrafados com duas mensagens bíblicas, este último dos “Cantares de Salomão”, que revela a ausência transitória de Salomão sentida por Sulamita. A citar: “Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, se achardes o meu amado, dizei-lhes que estou enferma de amor. O meu amado é alvo e rosado, o primeiro entre dez mil”. Cânticos dos cânticos, cap. 5: 8-10.
A Paixão, com um verso do saudoso poeta Vinícius de Moraes; O Desejo, por Florbela Espanca; A Saudade, por J. Salusse; A Vida, por Kalil Gibran; O Social, por Nazim Hilkmet (1906-1963), foi militante político de esquerda, considerado o maior poeta turco. As Sutilezas, que dá título ao livro, por Jorge Luís Borges, e finalmente Os Satíricos, que encerram o livro por Gregório de Matos. Eis aqui, senhores, as Sutilezas que deram origem a este meu primeiro livro.
Biologicamente, Deus me deu a suprema graça de meus três filhos. Foram, portanto, três gestações e naturalmente no tempo determinado por nosso Criador. Todavia a desse livro, superou qualquer uma. Sendo minha vida pautada, direcionada pelo Pai da Criação, deixei-me ser conduzida neste longo parto, no tempo de Deus, haja vista, que nosso tempo não é o Seu tempo. Para Deus, um dia pode representar um ano. Quem sabe isso seja uma maneira dEle, demonstrar para conosco, sua grande longanimidade.
Senhoras e senhores, hoje é o meu dia no tempo de Deus. À Ele, todas as honras pelas bênçãos da realização deste livro. Ao Centro Cultural Oboé, na pessoa desse grande investidor da Cultura, Dr. Newton Freitas e seu Diretor cultural, Tarcísio Tavares, juntamente com seus demais colaboradores, a minha gratitude. Ao professor e poeta, Dr. Roberto Pontes e sua esposa, a Dra. Elisabeth Dias, ao poeta Francisco Carvalho, ao grupo Versos de Boca, ao publicitário, cantor, compositor e grande amigo, Amaro Pena, ao Quarteto Ágape, à cantora, compositora, jornalista, apresentadora de televisão e minha filha, Karine Alexandrino, à escritora Arleni Portelada, minha confreira, pela Academia Feminina de Letras do Ceará, autora da belíssima resenha, que abriu esse programa e à nossa Cerimonialista da noite, a também escritora e confreira da mesma Academia, Tânia Gurgel, e finalmente, a todos vocês, meus convidados e colegas de entidades literárias, amigos e familiares, que com suas presenças tornaram possível o sucesso de Sutilezas. Recebam todos um caloroso abraço através do meu MUITO OBRIGADA!
POR ZINAH ALEXANDRINO
“Numa dimensão transversal, os grandes autores de todos os tempos, nos permitem lê-los com os olhos de hoje e permitirá que outros os leiam com os olhos de amanhã”.
Seria ambicioso demais de minha parte, uma mera iniciante na arte de poetar, comparar-me aos grandes escritores de todos os tempos. “Mas a poesia pertence à História Geral, segundo Bosi, mas é preciso conhecer qual é a história peculiar imanente e operante em cada poema. Que experiência calada no sujeito terá suscitado esta e não aquela mensagem metafórica?”
Foi vivendo, sentindo, sofrendo, amando, fazendo uma leitura isotópica de todas as cousas, que encontrei a melhor forma de converter em palavras o sumo de minhas experiências, sem ter nunca a pretensão de comparar-me a um gênio, muito embora, segundo o nosso grande romancista da atualidade, Ruy Câmara (Prêmio Jabuti de Literatura, categoria romance 2004), “Não é preciso ser gênio para ser-se poeta, mas ninguém é poeta sem um rasgo de gênio”. Partindo dessa assertiva, que faz epígrafe geral da abertura do livro, é que lhes apresento o meu primeiro livro de Poemas, um traçado das Sutilezas da poesia, onde discorro sobre o amor em suas diversas faces, a iniciar-se pelo grande amor, este que transcende todo o nosso entendimento: O AMOR DE DEUS , o qual não poderia omiti-lo, e de ressaltar a mensagem de amor e vida (para o homem). E esse amor, de um homem por uma mulher, e vice-versa. Os dois vêm epigrafados com duas mensagens bíblicas, este último dos “Cantares de Salomão”, que revela a ausência transitória de Salomão sentida por Sulamita. A citar: “Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, se achardes o meu amado, dizei-lhes que estou enferma de amor. O meu amado é alvo e rosado, o primeiro entre dez mil”. Cânticos dos cânticos, cap. 5: 8-10.
A Paixão, com um verso do saudoso poeta Vinícius de Moraes; O Desejo, por Florbela Espanca; A Saudade, por J. Salusse; A Vida, por Kalil Gibran; O Social, por Nazim Hilkmet (1906-1963), foi militante político de esquerda, considerado o maior poeta turco. As Sutilezas, que dá título ao livro, por Jorge Luís Borges, e finalmente Os Satíricos, que encerram o livro por Gregório de Matos. Eis aqui, senhores, as Sutilezas que deram origem a este meu primeiro livro.
Biologicamente, Deus me deu a suprema graça de meus três filhos. Foram, portanto, três gestações e naturalmente no tempo determinado por nosso Criador. Todavia a desse livro, superou qualquer uma. Sendo minha vida pautada, direcionada pelo Pai da Criação, deixei-me ser conduzida neste longo parto, no tempo de Deus, haja vista, que nosso tempo não é o Seu tempo. Para Deus, um dia pode representar um ano. Quem sabe isso seja uma maneira dEle, demonstrar para conosco, sua grande longanimidade.
Senhoras e senhores, hoje é o meu dia no tempo de Deus. À Ele, todas as honras pelas bênçãos da realização deste livro. Ao Centro Cultural Oboé, na pessoa desse grande investidor da Cultura, Dr. Newton Freitas e seu Diretor cultural, Tarcísio Tavares, juntamente com seus demais colaboradores, a minha gratitude. Ao professor e poeta, Dr. Roberto Pontes e sua esposa, a Dra. Elisabeth Dias, ao poeta Francisco Carvalho, ao grupo Versos de Boca, ao publicitário, cantor, compositor e grande amigo, Amaro Pena, ao Quarteto Ágape, à cantora, compositora, jornalista, apresentadora de televisão e minha filha, Karine Alexandrino, à escritora Arleni Portelada, minha confreira, pela Academia Feminina de Letras do Ceará, autora da belíssima resenha, que abriu esse programa e à nossa Cerimonialista da noite, a também escritora e confreira da mesma Academia, Tânia Gurgel, e finalmente, a todos vocês, meus convidados e colegas de entidades literárias, amigos e familiares, que com suas presenças tornaram possível o sucesso de Sutilezas. Recebam todos um caloroso abraço através do meu MUITO OBRIGADA!
APRECIAÇÃO DO LIVRO: “UM CONTO NO PASSADO... CADEIRAS NA CALÇADA”
Do escritor Raimundo Netto ( Prêmio de incentivo à publicação e divulgação de obra inédita, na categoria Romance pela Secretaria de Cultura do Estado do ceará – 2004 ).
Por Zinah Alexandrino
Fechemos as cortinas do presente e vamos para as páginas de “Um Conto no Passado... Cadeiras na Calçada.
“Senhoras e Senhores, bem-vindos ao vôo 737 da Gol com destino a Fortaleza com escalas em Brasília e Recife...” Essa fala seria para uma viagem à Fortaleza da atualidade, para onde vamos agora, viajaremos de bonde. Calma..! Não será no bonde “chamado desejo”, de Tennesse Williams; esse fica mais além no passado. Contudo, encontra-se estacionado aqui bem próximo à coluna da hora que fica na Praça da Feira Nova. Desliguem seus celulares, esqueçam seus automóveis ultramodernos que estão estacionados lá fora, os livros escritos nas páginas de seus computadores, porque, para onde iremos, essas invenções são objetos de mera ficção. Lá, a vida não quer pressa, por isso as pessoas ainda se sentam em cadeiras na calçada. Não fiquem temerosos! Podem levar seus objetos de uso pessoal: bolsas, relógios, jóias... Porque os ladrões vivem na zona rural e só roubam galinhas. E, além disso, há uma figura conhecida na cidade cujo nome é Levi que um dia desses subiu em uma mesa lá na Confeitaria Rotissérie e lançou sua candidatura a Deputado Federal, e ele promete que vai colocar na cadeia os ladrões da Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca (DNCOS). Lá ainda não se faz piada com Presidentes, Senadores e Deputados eles ainda não inventaram o “mensalão”. Visitaremos o poeta Juvenal Galeno que, certamente, o encontraremos “sentado numa rede com seu gorro azul na cabeça provando seu rapé, enquanto dita para Henriqueta, sua filha, alguns de seus versos”. Talvez encontremos também seus visitantes costumeiros: Dr.Quintino, Jader de Carvalho, Leonardo Mota e outros... E daremos uma “passadinha” pelo Cajueiro da Mentira, na Padaria Lisbonense, no Café Riche, na Confeitaria Glória, no Cine Moderno e na lanchonete Leão do Sul, onde aproveitaremos para degustar um delicioso caldo de cana.
Faremos umas comprinhas na Casa Mundlos, e nos hospedaremos na Pensão de dona Amélia Campos.E quando chegar à noite vamos para a tertúlia do Palácio da Luz.”Arre Ema”!(linguagem usada à época) Há tantas coisas para fazermos...
“Um Conto no Passado...” abre suas páginas à memória da antiga Fortaleza a partir do século XVIII, embora, o desfecho do romance ocorra no inicio do século XX, tendo, portanto como palco a nossa bela cidade, onde seu autor não se esqueceu de abordar fatos reais acontecidos à época, como a epidemia de varíola que assolou Fortaleza, fazendo 1004 vítimas. E o leitor fará essa viagem conduzido pelo seu personagem principal Américo Lopes, que narra sua história em primeira pessoa, com minuciosa riqueza de detalhes, feita através de uma fonte rigorosa de pesquisa, mostrando-nos uma Fortaleza ainda, com suas ruas descalças, nostálgica, quieta, boêmia..., através da memória involuntária, afetiva e ficcional de seu autor. Destarte, ele revela todo o seu desvelo por Fortaleza. E faz um resgate fotográfico do que rondava dentro das casas, como a máquina de costura, ”móvel de honra na sala”; os costumes antigos: os banhos de bica, a cultura do algodão seridó... Teve o cuidado de traduzir palavras do dicionário antigo, no rodapé, repassando-nos informações valiosas. Essas informações são tão apaixonantes, que quase esquecemos o contexto central do romance. Desse modo, Américo inicia sua narrativa: “Eu era apenas um garoto que me entretia sentado no cume de um frade-de-pedra, esquecido do mundo...” (pequenas colunas de pedra portuguesa que se colocavam à beira das calçadas para amarrar cavalos ou outros animais). E, em suas reminiscências, ele traz a lume antigas ruas como a “Rua Formosa”,do centro da cidade, atual Barão do Rio Branco; a “Botica do Ferreira”, ponto comercial pertencente ao Boticário Antonio Rodrigues Ferreira (1801-1859), Intendente de Fortaleza. A “Praça da Feira Nova”, antiga Rua do Cotovelo que mais tarde passou a chamar-se o que é na atualidade, a Praça do Ferreira em sua homenagem.
Foi com esse amor à nossa cidade que o escritor Raimundo Netto nos presenteou trazendo-a para as páginas de seu livro uma Fortaleza há muito esquecida pela maioria de seus moradores, em que ele faz com muita maestria uma fusão entre a ficção e a memória tal, qual a perspectiva de Proust na “Recherche”, cuja temporalidade ocupa um lugar central em sua obra. Assim como o autor citado, Raimundo Netto tentou refletir sobre as cousas que passam, se esgotam, se corroem e se perdem através da transitoriedade que caracteriza o fluir do tempo.
Viajem amigos, através das páginas de “Um Conto no Passado...”, e se perguntem por que não amar Fortaleza...? Américo Lopes, protagonista dessa história, perdeu a sua amada Olívia. Todavia, Raimundo Netto, resgatou a “sua amada Fortaleza”.
“Um Conto no Passado...” deve ser lido e apreciado não somente pela leveza da linguagem estética e a capacidade de criação do autor, mas, sobretudo, pelo seu valor historiográfico.
Do escritor Raimundo Netto ( Prêmio de incentivo à publicação e divulgação de obra inédita, na categoria Romance pela Secretaria de Cultura do Estado do ceará – 2004 ).
Por Zinah Alexandrino
Fechemos as cortinas do presente e vamos para as páginas de “Um Conto no Passado... Cadeiras na Calçada.
“Senhoras e Senhores, bem-vindos ao vôo 737 da Gol com destino a Fortaleza com escalas em Brasília e Recife...” Essa fala seria para uma viagem à Fortaleza da atualidade, para onde vamos agora, viajaremos de bonde. Calma..! Não será no bonde “chamado desejo”, de Tennesse Williams; esse fica mais além no passado. Contudo, encontra-se estacionado aqui bem próximo à coluna da hora que fica na Praça da Feira Nova. Desliguem seus celulares, esqueçam seus automóveis ultramodernos que estão estacionados lá fora, os livros escritos nas páginas de seus computadores, porque, para onde iremos, essas invenções são objetos de mera ficção. Lá, a vida não quer pressa, por isso as pessoas ainda se sentam em cadeiras na calçada. Não fiquem temerosos! Podem levar seus objetos de uso pessoal: bolsas, relógios, jóias... Porque os ladrões vivem na zona rural e só roubam galinhas. E, além disso, há uma figura conhecida na cidade cujo nome é Levi que um dia desses subiu em uma mesa lá na Confeitaria Rotissérie e lançou sua candidatura a Deputado Federal, e ele promete que vai colocar na cadeia os ladrões da Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca (DNCOS). Lá ainda não se faz piada com Presidentes, Senadores e Deputados eles ainda não inventaram o “mensalão”. Visitaremos o poeta Juvenal Galeno que, certamente, o encontraremos “sentado numa rede com seu gorro azul na cabeça provando seu rapé, enquanto dita para Henriqueta, sua filha, alguns de seus versos”. Talvez encontremos também seus visitantes costumeiros: Dr.Quintino, Jader de Carvalho, Leonardo Mota e outros... E daremos uma “passadinha” pelo Cajueiro da Mentira, na Padaria Lisbonense, no Café Riche, na Confeitaria Glória, no Cine Moderno e na lanchonete Leão do Sul, onde aproveitaremos para degustar um delicioso caldo de cana.
Faremos umas comprinhas na Casa Mundlos, e nos hospedaremos na Pensão de dona Amélia Campos.E quando chegar à noite vamos para a tertúlia do Palácio da Luz.”Arre Ema”!(linguagem usada à época) Há tantas coisas para fazermos...
“Um Conto no Passado...” abre suas páginas à memória da antiga Fortaleza a partir do século XVIII, embora, o desfecho do romance ocorra no inicio do século XX, tendo, portanto como palco a nossa bela cidade, onde seu autor não se esqueceu de abordar fatos reais acontecidos à época, como a epidemia de varíola que assolou Fortaleza, fazendo 1004 vítimas. E o leitor fará essa viagem conduzido pelo seu personagem principal Américo Lopes, que narra sua história em primeira pessoa, com minuciosa riqueza de detalhes, feita através de uma fonte rigorosa de pesquisa, mostrando-nos uma Fortaleza ainda, com suas ruas descalças, nostálgica, quieta, boêmia..., através da memória involuntária, afetiva e ficcional de seu autor. Destarte, ele revela todo o seu desvelo por Fortaleza. E faz um resgate fotográfico do que rondava dentro das casas, como a máquina de costura, ”móvel de honra na sala”; os costumes antigos: os banhos de bica, a cultura do algodão seridó... Teve o cuidado de traduzir palavras do dicionário antigo, no rodapé, repassando-nos informações valiosas. Essas informações são tão apaixonantes, que quase esquecemos o contexto central do romance. Desse modo, Américo inicia sua narrativa: “Eu era apenas um garoto que me entretia sentado no cume de um frade-de-pedra, esquecido do mundo...” (pequenas colunas de pedra portuguesa que se colocavam à beira das calçadas para amarrar cavalos ou outros animais). E, em suas reminiscências, ele traz a lume antigas ruas como a “Rua Formosa”,do centro da cidade, atual Barão do Rio Branco; a “Botica do Ferreira”, ponto comercial pertencente ao Boticário Antonio Rodrigues Ferreira (1801-1859), Intendente de Fortaleza. A “Praça da Feira Nova”, antiga Rua do Cotovelo que mais tarde passou a chamar-se o que é na atualidade, a Praça do Ferreira em sua homenagem.
Foi com esse amor à nossa cidade que o escritor Raimundo Netto nos presenteou trazendo-a para as páginas de seu livro uma Fortaleza há muito esquecida pela maioria de seus moradores, em que ele faz com muita maestria uma fusão entre a ficção e a memória tal, qual a perspectiva de Proust na “Recherche”, cuja temporalidade ocupa um lugar central em sua obra. Assim como o autor citado, Raimundo Netto tentou refletir sobre as cousas que passam, se esgotam, se corroem e se perdem através da transitoriedade que caracteriza o fluir do tempo.
Viajem amigos, através das páginas de “Um Conto no Passado...”, e se perguntem por que não amar Fortaleza...? Américo Lopes, protagonista dessa história, perdeu a sua amada Olívia. Todavia, Raimundo Netto, resgatou a “sua amada Fortaleza”.
“Um Conto no Passado...” deve ser lido e apreciado não somente pela leveza da linguagem estética e a capacidade de criação do autor, mas, sobretudo, pelo seu valor historiográfico.
O Fantástico Romance de Ruy Câmara
Em Cantos de Outono, romance da vida de Lautréamont (Rio de Janeiro: Editora Record, 2003), nada escapou ao lúcido olhar de seu autor, o notável escritor Ruy Câmara. Ele guarda o ritmo da vida de seu personagem, cujo texto funciona como uma máquina fotográfica, captando flagrantes do seu cotidiano. Transporta-nos através de suas páginas ao centro culminante do romance, onde predomina o lirismo característico das mais belas composições literárias do romantismo, com riquezas de metáforas sinestésicas. E, assim, com uma linguagem irretocável, ele capta como ninguém os fragmentos de uma vida atormentada, que foi a de Isidore Lucien Ducasse. Trabalhando este material com a urdidura de uma obra de arte, Câmara soube como poucos elevar o romance aos momentos mágicos da criação literária.
Destarte, com uma fantástica genialidade de criação, Ruy Câmara biografa a vida em romance de Isidore Lucien Ducasse, autor de “Os Cantos de Maldoror”, escrito sob pseudônimo “Conde de Lautréamont”. É dessa proficiência do fazer literário que desponta o romancista somente comparado aos grandes autores universais, tais como: Émile Zola (Germinal), Gustave Flaubert (Madame Bovary).
Enfim, como dizia o jornalista Oscar d’Ambrosio, “...existem certos autores privilegiados que merecem ser conhecidos e apreciados com um suave sorriso, uma confortável poltrona e uma xícara de chá.”. Sem dúvida, em Cantos de Outono, em cada gole sorveremos uma página de um dos nomes menos conhecidos e mais talentosos desse século. Afinal, Ruy Câmara transforma o desafio da escrita em prazer de leitura, próprio dos mestres da palavra.
É uma obra de grande finura que versa sobre um tema pouco freqüentado, com penetração psicológica e trágica que confunde realidade com ficção, “é a literatura virada pelo avesso”.
Recomendo a leitura desse admirável talento, que será reconhecido muito em breve por todo mundo.
Em Cantos de Outono, romance da vida de Lautréamont (Rio de Janeiro: Editora Record, 2003), nada escapou ao lúcido olhar de seu autor, o notável escritor Ruy Câmara. Ele guarda o ritmo da vida de seu personagem, cujo texto funciona como uma máquina fotográfica, captando flagrantes do seu cotidiano. Transporta-nos através de suas páginas ao centro culminante do romance, onde predomina o lirismo característico das mais belas composições literárias do romantismo, com riquezas de metáforas sinestésicas. E, assim, com uma linguagem irretocável, ele capta como ninguém os fragmentos de uma vida atormentada, que foi a de Isidore Lucien Ducasse. Trabalhando este material com a urdidura de uma obra de arte, Câmara soube como poucos elevar o romance aos momentos mágicos da criação literária.
Destarte, com uma fantástica genialidade de criação, Ruy Câmara biografa a vida em romance de Isidore Lucien Ducasse, autor de “Os Cantos de Maldoror”, escrito sob pseudônimo “Conde de Lautréamont”. É dessa proficiência do fazer literário que desponta o romancista somente comparado aos grandes autores universais, tais como: Émile Zola (Germinal), Gustave Flaubert (Madame Bovary).
Enfim, como dizia o jornalista Oscar d’Ambrosio, “...existem certos autores privilegiados que merecem ser conhecidos e apreciados com um suave sorriso, uma confortável poltrona e uma xícara de chá.”. Sem dúvida, em Cantos de Outono, em cada gole sorveremos uma página de um dos nomes menos conhecidos e mais talentosos desse século. Afinal, Ruy Câmara transforma o desafio da escrita em prazer de leitura, próprio dos mestres da palavra.
É uma obra de grande finura que versa sobre um tema pouco freqüentado, com penetração psicológica e trágica que confunde realidade com ficção, “é a literatura virada pelo avesso”.
Recomendo a leitura desse admirável talento, que será reconhecido muito em breve por todo mundo.
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